…Nós nascemos de olhos fechados e a grande aventura da nossa vida é abrir os olhos.
Se eu parasse na linha reta, eu entraria no descanso da morte eterna; mas se continuo na linha reta (vertical), então eu entro no descanso da vida eterna. O eterno descanso e o eterno conhecer, amar e gozar.
Depois de três dias de silêncio, de silêncio material, silêncio emocional e silêncio mental, a linha divisória que parece existir entre o mundo material e o mundo espiritual vai desaparecendo aos poucos. Não há uma parede opaca, dura, espessa, entre os dois mundos; esses dois mundos não são justapostos, são interpenetrados. O mundo espiritual não está ausente; está permanentemente presente, dentro do mundo material. Nós é que estamos ausentes dele, mas ele não está ausente de nós. O mundo espiritual está sempre presente a nós, nós é que nos ausentamos dele. E essa nossa ausência se chama ignorância. Quando o homem está em plena luz solar, ao meio dia e fecha os olhos, o que é que acontece? O sol está presente a ele e ele está ausente do sol… Porque ele não enxerga a luz por estar de olhos fechados; se ele abrir os olhos, ele estará presente ao sol que parecia estar ausente. Abrir os olhos é uma coisa muito difícil. Nós nascemos de olhos fechados e a grande aventura da nossa vida é abrir os olhos.
Os mestres chamam a isso nascer de novo, – abrir os olhos para a Realidade. Porque o mundo material não é real; é uma sombra, mas não é a luz; é um reflexo no espelho, mas não é o objeto mesmo. De maneira que a única coisa que temos a fazer, é abrir os olhos para a realidade. Isto, porém, é muito difícil no meio do sansara, – desse barulho de cada dia. Se alguém conseguisse entrar na vertical que se ergue sobre a horizontal, então esse alguém sairia do sansara e entraria no glorioso nirvana da verdade. O nirvana não quer dizer nada, como muitos pensam. É o nada da ilusão, mas é o tudo da verdade. Se fecharmos os olhos para a horizontal, intensificamos, notavelmente, a nossa sensibilidade para a vertical. Isto acontece em três dias de retiro. Que seria se fizéssemos sete dias? Que seria se fizéssemos 30 dias como seria normal? Um ciclo lunar, praticamente 30 dias. Os mestres, em geral, tomam 40 dias. Elias, no deserto, 40 dias de silêncio; Moisés, nas alturas do Sinai, 40 dias; Jesus no deserto da Judeia, 40 dias de silêncio e solidão. Muitos vão além dos 40 dias. Inácio de Loiola passou um ano inteiro em absoluto silêncio e solidão; João Batista passa a juventude inteira na solidão do deserto; Paulo de Tarso, depois da sua maravilhosa, aventura espiritual, às portas de Damasco, não começa o seu ministério. Vai para a Arábia e passa três anos em silêncio; antes, não se sentia maduro, ele estava iniciado apenas. Ele tinha que passar para a convicção de que o reino de Deus está dentro de nós. Para a sinagoga, o reino de Deus está fora; para as nossas teologias, também; elas são a continuação da sinagoga; continuação fidelíssima, – o cristianismo eclesiástico. Porque o Cristianismo do Cristo durou apenas três séculos. Morreu no princípio do 4º século assassinado por Constantino Magno. E continuou enterrado; no século VIII. Carlos Magno ainda ajudou a enterrá-lo melhor. E no século XIII Tomas de Aquino, lavrou a certidão de óbito; Certidão de óbito do cristianismo Crístico, substituído pelo cristianismo eclesiástico. No século XVI foi oficialmente declarado morto pelo Conselho de Trento; e continua morto até hoje. Nós estamos fazendo uma tentativa sincera para reatarmos o fio do cristianismo crístico que se extinguiu no VI século.
A autorrealização é, pois, um eterno conhecer, amar e gozar. Isto é a vida eterna em Deus.
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