quinta-feira, 14 de abril de 2011

INSATISFEITO

Insatisfeito estava eu comigo mesmo,
Com essa rotina horizontal
De longos decênios...
Porque tinha eu de marcar passo,
Tediosamente,
No plano dos sentidos e da mente?
Por que não podia romper, finalmente,
A barreira do som e da luz,
E altear-me à ignota vertical
Do espírito?...
Viver novos mundos, de estupenda grandeza
E inefável formosura?...
Se eu era filho da luz,
Por que rastejar nestas trevas?
Se era espírito livre,
Por que gemer algemado?


Insatisfeito estava eu comigo mesmo.
E, por algum tempo, tentei
Imitar o exemplo de outros,
Meus companheiros de prisão,
Tentei dourar as grades escuras
Da minha velha cadeia,
E chamar "palácio" a minha masmorra,
Iludindo-me com aparências de liberdade,
No meio da escravidão.
Prevaleceu, todavia, a minha sinceridade
Sobre essa mentirosa camuflagem.
Não dourei as grades férreas da minha prisão.
Deixei escuras as ferrugentas barras.
Concentrei-me no meu íntimo ser,
Assiduamente,
Diuturnamente,
Intensamente -
E verifiquei que não era eu
Que estava preso,
Que era apenas algo meu
Que gemia no cárcere.
Descobri que o meu verdadeiro Eu era livre,
Libérrimo como as águias do espaço infindo,
Libérrimo como a luz e a vida,
Libérrimo como o próprio espírito de Deus...
Deixei na prisão o que era meu,
O meu ego físico-mental,
E proclamei a liberdade
Do meu Eu espiritual -
Até que, um dia, esse Eu divino
Consiga libertar também o meu ego humano,
Até que o meu ser total possa romper
As barreiras do som e da luz
E ingressar na gloriosa liberdade
Dos filhos de Deus...

("A Voz do Silêncio" - Ed. Martin Claret.)

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